A
Operação Lava Jato é um dos pilares do golpe de 2016, não só porque foi uma das
articuladoras da deposição da presidenta Dilma e a responsável pela prisão
política de Lula, mas, sim, porque esses dois elementos foram e são centrais
para estabelecer um projeto de país que retira os direitos da classe
trabalhadora, coloca as Forças Armadas no centro da vida política brasileira e
nos subordina aos interesses dos Estados Unidos. As últimas revelações do The
Intercept confirmam isto. A atuação de Sérgio Moro, articulando e coordenando as
acusações do ex-presidente, tinha como os únicos motivos a retirada de Lula da
disputa presidencial de 2018 e da luta política direta em nosso país para que o
projeto do golpismo pudesse vingar.
Cabe-nos,
pois, fazer um breve resgate de memória histórica para que possamos esclarecer
a importância do papel político de Lula no contexto atual. Quando costumamos
debater sobre a Ditadura Empresarial-Militar brasileira muito falamos sobre a
luta armada e sobre a luta institucional via MDB. Entretanto, um exercício que
pouco fazemos – seja porque não costumamos fazer balanço histórico, seja porque
insistimos em repetir os erros estratégicos e táticos da nossa luta política –
é rememorar como conseguimos derrotar a ditadura brasileira. Entre as várias
táticas de luta armada e da própria tentativa de construção de frente ampla com
setores da burguesia nacional, o que conseguiu acumular forças para a derrota
do regime foi a luta de massas, representada pelas grandes mobilizações
estudantis e as greves de trabalhadores, com destaque para as greves do ABC
que, por sua vez, conseguiram mobilizar e cruzar os braços milhares de
trabalhadores na região paulista. Aqui, uma figura popular, vinda do interior
do interior do Nordeste brasileiro, se destacou por liderar e articular com
maestria as greves: Luiz Inácio Lula da Silva.
Lula,
a partir de então, conseguiu se colocar para o conjunto do povo brasileiro como
a maior liderança popular da história do nosso país. Prova disto é a sua
capacidade de liderar as massas não só por meio das greves na década de 1980,
mas por ter conseguido terminar um governo com mais de 80% de aprovação e de,
mesmo preso e com uma campanha intensa de criminalização ao nosso partido e à
sua vida política, ter sido o candidato favorito pelo nosso povo ao pleito
eleitoral de 2018.
A
Lava Jato e a coalizão golpista sabem que para se sustentar no governo é fundamental,
dentre outros aspectos, ter uma liderança que consiga aglutinar as massas.
Portanto, eles sabem também que a fragilidade do projeto que está posto é a
possibilidade de Lula, como liderança de massas, fazer o contraponto a
Bolsonaro, organizando nas ruas, nas praças e bairros a resistência à reforma
da previdência e ao desmonte da educação. Vejamos: se Lula é liberto, a luta
contra o governo entra em outro patamar, uma vez que há uma liderança do nosso
campo democrático popular (que por sinal é a única atualmente) com grande
inserção nas massas. Lula põe em cheque direto a liderança de Bolsonaro e o
projeto neoliberal conservador em curso. Lula, portanto, é a possibilidade
concreta – gostem alguns ou não – de forjarmos uma saída democrática popular à
crise instaurada. Por isso, a campanha pela libertação de Lula aponta para a
derrota do governo Bolsonaro e sinaliza, a depender do nível de consciência que
consigamos estar, para um projeto de país de cunho popular, capaz de colocar como
central as reformas estruturais que precisamos.
Nesse sentido, é papel da UNE e do movimento estudantil
colocar a bandeira Lula Livre como central para esse período, vinculando-a aos
cortes orçamentários, à piora das condições de vida da classe trabalhadora e à
defesa da autonomia das nossas universidades. Não podemos mais nos iludir com
as táticas que põe como central a formação de uma frente ampla com os ditos “setores
democráticos” que, inclusive, compõem a agenda de retirada de direitos da
classe trabalhadora e do nosso povo. Não nos esqueçamos que, historicamente, essas
táticas equivocadas só serviram à desarticulação da luta de massas. O núcleo
duro da resistência ao governo tem que ser o bloco popular e nesse bloco Lula
cumpre uma função crucial de liderança. Por isso, é urgentemente necessário que
a entidade volte a assumir o dia-a-dia das universidades públicas e privadas,
retomando a primavera estudantil, construindo os comitês Lula Livre, ao passo
em que engajamos a classe trabalhadora nesse processo e acumulamos forças para
a greve geral e para a derrota do golpismo.
Ana Flávia Lira é
militante do Partido dos Trabalhadores e estudante de Direito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário